Conforme os anos passam vamos assistindo a vida se montar ao nosso redor. Algumas vezes podemos ver peças soltas desse imenso quebra-cabeças a tentarem juntar-se ao todo. Mas não. Nem tudo se encaixa nessa vastidão de acontecimentos chamada vida.
Tantos são os desencontros e as vontades frustradas que posso comparar à minha brincadeira de criança de montar aqueles gigantes brinquedos de 5 mil peças. Quantas vezes insistia em encaixar um pedaço em um vazio desproporcional ou de outro formato? Como na vida. Muitas vezes ficamos tentando fazer caber uma realidade que claramente não foi feita para aquele lugar, ou momento. Ficamos olhando para aquele pedaço de existência e inconformados não aceitamos porque não pode ser como queremos.
De repente, distraídos olhamos de canto uma outra peça, ali, tímida, jogada fora da área de trabalho e curiosos testamos o encaixe que se mostra perfeito. Tão estranha essa nossa falta total de habilidade em identificar aquilo que realmente cabe, ou nos cabe.
Creio que um sentimento geral da humanidade é a necessidade de pertencimento. De fazer parte de algo maior, um todo que por mãos artesanais foi quebrado em pedaços menores. Recortado em suas bordas em formatos bizarros e espalhado conscientemente. Não conheço uma pessoa sequer que não tenha a vontade de saber exatamente para o que foi feita. Saber que tipo de peça é na imagem completa.
Hoje, com anos percorridos e muitos encontros, tenho plena convicção de que nada é por acaso. Minhas curvas certamente foram desenhadas para um encaixe perfeito com o restante da minha existência. Pessoas, lugares, situações, sensações, tudo parte de um plano macro milimetricamente desenhado para que a tela se complete um dia.
Em nosso caso não funciona como em uma loja de brinquedos em que você escolhe a paisagem pela caixa. Sabe sua forma final. Joga todas as peças soltas no chão. Faz questão de misturá-las mais. E aí com toda paciência daqueles que gostam dessa façanha, senta-se calmamente por horas, dias, meses, até reproduzir novamente a imagem da caixa. Não. Na vida é diferente. Primeiro vem a consciência dessa realidade fragmentada. Depois a certeza de que nossas peças estão espalhadas e de que o nosso primeiro desafio é encontra-las. Por fim, sem ter a mínima ideia da paisagem final, tentar, tentar e tentar um encaixe de pedaços.
O grande projeto é não desistir da ideia de encontrar a imagem final. Idealizar ao máximo suas aspirações e lembrar que sempre o livro é melhor que o filme. Então não limite sua imaginação, não aceite uma imagem pronta, um padrão de desenho, projete a paisagem e corra atrás de seus pedaços. Eles também estão por aí. Procurando por você para emoldurar a fotografia.
Tenha certeza de que quem criou o desenho original não deixou nenhum buraco. Todas as peças foram recortadas com precisão. Portanto abra os olhos do coração e da mente. Olhe em volta e chame a existência sua obra completa.
Este nome é perfeito, pois a gente quebra a cabeça até perceber que a fragmentação não tira a beleza do todo. Basta paciência e cuidado durante a montagem para que o futuro que nos aguarda se apresente ali, completo.