Existem pessoas que passam por nossas vidas. Isso mesmo, apenas passam. Vivemos com elas momentos incríveis, ou até mesmo difíceis, mas que ao se findarem simplesmente se vão. Guardamos delas apenas lembranças, um tipo de arquivo “gaveta” em que mexemos raras vezes apenas para olhar ou redobrar o que tem dentro.
Outras entram de forma avassaladora. Vão mudando todo o ambiente remexendo na atmosfera. Nos entregamos a elas muitas vezes. Mas depois de um tempo também se vão. Guardamos essas em “caixinhas”, são um pouco mais especiais que aquelas da gaveta. Essas nos são caras, não costumamos falar em vão. Recorremos a elas em momentos de solidão, em que precisamos desesperadamente de algo que nos dê esperança.
Impossível não citar algumas que se vão e deixam feridas, cicatrizes. Machucam-nos de forma profunda. Essas precisamos aprender a colocar em “arquivo morto”, esquecê-las.
Mas de nenhuma dessas eu gostaria de falar agora. Essas relações são apenas ligações que criamos em momentos da vida por trabalho, amizade ou paixões.
As conexões que me inquietam são as inexplicáveis. Aquelas que não entendemos como nasceram nem como se mantém vivas. A distância, o tempo, a realidade da vida criam um afastamento de corpos, mas vez por outra o encontro casual e inevitável acontece. Me parece uma conjunção de fatos que combinados trazem à nossa presença aqueles que sequer deveriam estar ali.
Fazendo uma retrospectiva mental notaremos que alguns nomes sempre permearam nossa vida muitos e muitos anos. Lembramos de comentários soltos, de notícias que ouvimos em algum momento aleatório, algum sonho que tivemos, enfim, tantas vezes sem que nos víssemos, nos vivemos.
Que tipo de conexão é essa que desafia a lógica do tempo e do espaço? Que traz de volta quem não ficou? Que remonta cenas que deixaram de acontecer?
Quando realmente nos conectamos, vemos além do explicável. Sem falar nos sabemos, sem nos conhecer nos reconhecemos. Nos encontramos circunstancialmente e sentimos que nos entendemos há tempos. Que conexão é essa que não forçamos, que não controlamos?
É o tipo que não escolhemos. Aquele tipo que, sem termos consciência, nos impulsiona para o centro do nosso caminho e que nos prova que esse mundo concreto em que habitamos obedece a um outro, real, que não nos é visível aos olhos. Não se trata de uma ligação casual ou necessária no momento. Trata-se de conectar-se a alguém, sem ver, sem ser visto, mas sabendo-se ali, presente. Um presente…
Coração acelerado, pernas bambas, mãos que suam ou apenas uma paz, uma calma, uma certeza, simples sinais de que estamos muito provavelmente em um desses encontros sobrenaturais e empolgantes.
Preste atenção. Afinal, o acaso nunca foi uma mera distração do destino.