Quando eu te encontrei

Quando eu te encontrei descobri que acreditei em mentiras demais, ilusões demais. Percebi que passei anos em busca de um alvo que nunca conheci, correndo, correndo e correndo. Exausta notei que ia sobre uma esteira e que meu suor encharcava o chão se acumulando ali, já que eu não saia do lugar. Mas quando eu te conheci entendi que poderia despir-me de minhas belas palavras sobre mim mesma e rasgar-me aos teus pés. Soube que me era permitido esvaziar-me da podridão dos sentimentos feios que deixados num canto da minha alma por tempo demais já cheiravam mal. Não, você não estava ali esperando ouvir sobre minhas glórias, você queria os meus fracassos. Não aguardava o momento de eu terminar meu relato para me entregar flores e congratulações, sentava-se ao meu lado no chão para colher minhas lágrimas. Enquanto eu, arrependida, soluçava um pedido de perdão você sorria com o semblante de quem esperou tanto tempo até que eu finalmente entendesse. Ouvindo-me, não se unia a mim na dor, levando-me para mais fundo. Não. Como um mágico transferia todo meu sofrimento para si e me devolvia uma chama de esperança. Como se trocássemos figurinhas, eu te dando milhares iguais e repetidas de minhas fraquezas e você abrindo novos pacotes de exclusivas e brilhantes verdades sobre mim. No momento em que me entreguei a ti soube que não seria mais a mesma. Muitos não me compreenderiam mais, não me encaixaria mais em moldes prontos. Entendi que seriam novos caminhos, novas pessoas, novas certezas. Ao me conectar contigo descobri a mais séria brincadeira de viver. Entendi que o mais sábio dos palhaços não ri quando eu caio, e troca angústias por buque de flores. Compreendi a existência do único amor verdadeiramente incondicional. Que me recebe e me aceita em meio a minha solidão. Que me mostra cores nas minhas sombras e que lava meus pés da sujeira do meu caminhar velho, derramando sobre mim o perfume da novidade.