É fim de tarde e estou sentada em meu sofá, no silêncio do meu apartamento, olhando a luz do sol que vai intimidando-se. Esse momento é um de meus favoritos. Quando posso estar aqui a essa hora e nessas condições sou sempre levada a um estado profundo de gratidão. É impressionante como esse silêncio e essas simples imagens falam sempre ao meu coração. Creio que todos temos o cantinho de nossa paz, esse é o meu. É nesse lugar que eu acredito que tudo é possível e que todas as coisas podem se encaixar de maneira perfeita. Porque é isso que esse momento me diz.
Aquieto minha mente e minha alma vai relaxando como se uma linda música me ninasse de dentro para fora. Essa luz que entra pela minha varanda canta para mim as vitórias de cada passo que me trouxe até aqui. É como se ela sempre tivesse me acompanhado e testemunhado meus dias, percebendo eu, ou não.
Escorrego lentamente entre as almofadas e aconchego o corpo para aproveitar ao máximo esses poucos minutos que o sol leva para descer me proporcionam. Vou assistindo mais um dia se findar completando seu ciclo e sua missão. Não quero fechar meus olhos, quero apreciar, mesmo que bolas coloridas, geradas pela forte claridade, acabem por passear em minha frente atrapalhando minha vista. Não quero perder o milagre do dia que se vai.
Enquanto o céu avermelha a certeza de que o espetáculo se repetirá amanhã me alegra. O sol estará no mesmo lugar, no mesmo horário, ainda que todo o restante do dia seja completamente diferente do que foi hoje. Essa convicção me faz levantar.
Com a sensação de baterias recarregadas volto às tarefas e ao arranjo da hora. Mas um sorriso de lado me acompanha, aquele que damos à nós mesmos quando nos aprovamos. O sentimento de satisfação já encheu a noite de esperança. Pois a inequívoca luz que agora se apaga lá fora me deixará apenas por algumas horas. Ao amanhecer ela novamente me dará bom dia e se oferecerá mais uma vez como minha testemunha. Seguirá comigo em todo o tempo me guiando e me lembrando que o maior amor nunca muda. Basta que eu observe o céu, metade do tempo claro a outra metade escuro, mas sempre nessa ordem e sempre céu.