Mais uma mudança

Me vendo aqui entre muitas e miutas caixas de papelão meus pensamentos não resistem e passeiam por anos. Se eu fosse contar, talvez não soubesse como dizer da maneira correta em que “enézima” vez estou nessa situação. Quantas foram as mudanças. De casa, de cidade, de estado. De vida. Me transportei até o dia em que cheguei nesse apartamento do qual saio hoje. Eu estava quebrada. Enquanto as coisas saiam das caixas naquele dia eu sentia como se fossem aos poucos tirando casquinhas de ferida que estavam secas, e essas vertinham timidamente um pouco de sangue novamente. Claro que chorar fez parte daquele processo, e um leve desespero, não posso negar, me acompanhava. Quanto medo eu tinha daquele novo que eu enfrentaria depois que aqueles 68 metros quadrados estivessem enfim habitados com minhas coisas. Coisas? Memórias? Espaços vazios. Hoje olhando algumas daquelas coisas voltando às caixas, percebi que realmente eram apenas algumas, as remanescentes. A grande maioria já fazia parte da nova leva. Foram chegando aos poucos aqui, enquanto eu ia criando novas lembranças. Não vou fingir que o coração não aperta e que lá no fundo não rola uma aflição. Sim, minha matéria organica ainda é carne e osso, com muito sangue correndo pelas veias. Mas hoje o medo desse novo não me acompanha. Hoje aquela menina que chegou quebrada sai uma mulher inteira. O novo de agora me instiga, me chama, me atrai. Me espera. Nesse momento, inevitável uma reflexão sobre a mudança. Uma das únicas certezas em nossas vidas. E por que mesmo a evitaríamos? Se ela é o que nos coloca em movimento? Vejo tudo o que aconteceu nesse últimos anos e posso afirmar que sou um milagre de remissão de tempo. Sim. Meu tempo foi restituído. Se quando eu entrei nesse apartamento eu tivesse a vaga ideia de quem eu seria ao sair dele não teria chorado. Teria tentado acelerar o processo. E entendo que é exatamente por isso que não somos avisados de tudo o que vamos viver. Tentar acelerar processos seria a melhor maneira de atrasá-los. Agora é respirar fundo, encher o peito, erguer a cabeça e seguir mais uma nova etapa. Não chamo isso de recomeço, não é, não parto do zero. Isso é continuidade. Seguir o curso da vida, até que a próxima mudança se apresente para ser recebida de braços abertos mais uma vez. Entendi que mudar é mover-se em direção ao centro do nosso destino. Foi muito difícil chegar a essa conclusão, mas hoje sei que esperar é uma ação e não uma posição inerte. Espero caminhando, espero aceitando o novo, espero com esperança.      

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