Por quase 30 anos

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Por quase 30 anos eu me afastei.

Caminhei do ponto de origem incessantemente para longe. Um desejo inconsciente de sair dali me levava. Firme e forte ao meu destino. Que destino? Achei que soubesse, mas passei todo esse tempo mirando em algo nebuloso. Eu não sabia exatamente onde queria chegar. Que lugar enfim era esse. Eu só ia.

Esse ano, o fatídico 2020 parou esse processo. Sem qualquer tipo de escolha larguei minhas armas. Finalmente aceitei a minha, total, falta de controle e decidi voltar. Voltar pra casa. No sentido mais amplo que essa frase possa carregar.

De início parecia a única saída. Um fracasso, um retrocesso, uma perda que eu estava encarando com maturidade. Dei esse passo. Não vou mentir, vim ressentida.

Menos de um mês depois o meu coração era outro. Vi o amor me cercar, a vida caminhar calma, não sem problemas, mas firme. O cotidiano que antes parecia impossível desenhava-se agradável aos meus olhos. O retrocesso parecia colo. Estranho, inesperado.

A vida mostrava uma realidade diferente. O caminho cheio de curvas e desvios percorrido com tanto afinco terminava no começo. Eu só aceitei.

Nunca antes havia imaginado que poderia encontrar o novo ao voltar. Pensava que esse era um lugar de coisas velhas. Velhos afetos desgastados. Velhas dores. Velhos conceitos.

Errei.

Olhando de perto me dei conta de não conhecer nada daqui. Nada era como antes, além de algumas paredes. Existia uma paz que eu não conhecia. Existia uma facilidade que eu não compreendia. Coisas fluíam como eu não imaginaria. E o novo se apresentou a mim. Vi possibilidades, oportunidades, vi vida.

Me descasquei de verdades que perderam o sentido. De exigências que se desfizeram. Me despi das minhas obsessões. Eu voltei. De uma longa viagem que, sem eu saber, tinha como destino o ponto de partida.

Não planejava voltar.

Daqui, agora, sinto que posso tudo. Nesse lugar, em casa, sinto que tenho tudo.

Aqui, lugar de onde saí pensando que jamais voltaria, encontrei muito do que procurei no longe. Me deparei com surpresas que a vida guardava carinhosamente e talvez escondido, pra mim. Bem aqui.

Difícil imaginar o futuro, difícil saber se me será possível ficar. Ou se esse tempo é mais um ajuste de rota. Mas uma coisa eu sei. O que encontrei aqui, na volta, não devolvo mais. É meu. É pra mim.

Sim, como já falei não exaltarei 2020, esse esquisito ano trouxe infinitas dores. Mas chego ao final dele inevitavelmente dizendo, obrigada.

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