Por JL AmaraL – autor de “Entre pontos”.
Por longo tempo e diversas vezes segui à risca a fórmula, dada como certa, do recomeço. Aquela usada quando a vida resolve voltar duas casas no tabuleiro, normalmente por alguma perda ou grande decepção.
A gente levanta, bate a poeira da roupa, olha para trás, pesa erros e acertos, anota aprendizados em um pedaço de papel, repete em voz alta andando pelo quarto para decorar a aula, não esquecer (mais) a lição.
Porque a vida é assim, nos ensina matéria nova e aplica prova no mesmo dia.
Sem aviso. Esteja preparado!
Confesso, é fórmula boa, funciona mesmo. Leva tempo, é verdade. Precisa ter paciência. Nem sempre é tão imediata, com resultados rápidos, quanto a nossa doida ansiedade – amiga-da-onça, reclamona com voz chata, azucrinando baixinho ao pé do ouvido – deseja. Mas se souber controlá-la, souber esperar, os frutos colhidos lá na frente serão bonitos.
Problema é que eu fiquei com fome de salada, arroz, feijão. E batata-frita.
Quis mudar. De modo, de jeito, de pensamento. De caminho. Abrir aquela porta sempre fechada, nunca escolhida – por falta de tempo, não é momento ou outra desculpa esfarrapada, encardida.
Sou movido pelo frio na barriga, o incerto me empurra à frente, faz acordar cedo, vestir roupa diferente, mudar facilmente de hábitos, sair na chuva para me molhar, encarar desafios. Não me basta somente aprender, preciso também aplicar. E sabendo ser capaz, começo a inventar novos jeitos, questionar silenciosamente conceitos, testo novos formatos, quebro a cara, reinvento. E faço descobertas incríveis.
Reinventar. Essa palavra tornou-se mágica para mim. Muito mais do que recomeço.
Porque, com ela, me senti livre. Pude me desfazer da mochila pesada que alguém jogou em minhas costas e me convenceu a carregar. Deixei de acreditar em coisas que tantos diziam serem certas e, para mim, pareciam erradas. Aceitei visões diferentes, larguei a ‘velha opinião formada sobre tudo’, diria Raul – e pensar ter cantado centenas de vezes a canção e nunca ter entendido, de fato, a profundidade da frase. Um sábio.
Hoje, afirmo com orgulho: me reinventei e nunca fui tão feliz. Quando mudei o sentido da vida, pasmem, ela passou a fazer todo o sentido.
Às favas com os recomeços. Darei mais chances às reinvenções!
CRÉDITO: https://www.cronicascruzadas.com.br/single-post/2017/10/12/%C3%80s-favas-com-os-recome%C3%A7os