Arrependimento

Até ontem eu acreditava conhecer o arrependimento. Quantas vezes me arrependi de ter ido a uma festa, de não ter ido a um evento ou de ter usado um sapato novo para caminhar muito. Enfim, quantas vezes me arrependi de decisões tomadas que me levaram a um resultado bem diferente daquele que eu gostaria de alcançar. Isso tudo vale na vida e na minoria das vezes serve de lição para não repetirmos mais os mesmos erros. Mas arrependimento mesmo… Existe um sentimento que nos despedaça por dentro. Acontece quando você tem coragem de acessar o mais fundo do seu existir e tocar aquele ponto específico. Pode ter passado mil anos e você ainda é capaz de sentir a dor mais profunda. Você daria tudo para voltar o tempo e ter ao menos uma única chance de fazer diferente. Nesse momento você descobre o quanto sua vida foi guiada inconscientemente pelas escolhas que fez, e pelo que sentiu a partir delas. Entende que todas as decisões que tomou tinham sua ferida como ponto de partida. Você se encolhe. Lembra o quanto afetou pessoas e percebe a tamanha impotência que tem em mudar os efeitos. Em uma jornada de mergulhos interiores intensos, um caminho de conhecimento de mim mesma para um novo passo de evolução, tenho encontrado camadas e camadas de “eus”. Cada uma construída em cima da outra, sem ter esperado que a última secasse. Apenas uma sobreposição que encobria as falhas das anteriores em uma nova tentativa mais lisinha e, aparentemente, bonita. Como acontece com tudo que se constrói errado, precisei implodir as camadas, encarando suas malfeitas emendas. Foi assim que conheci o arrependimento. Não aconselho ninguém a tentar isso sozinho. Nesse meu percurso minha mão tem sido guiada por aquele que sabe onde escondi minhas sujeiras e único que possui as ferramentas para arrancá-las de mim. Ele me levou ao centro da minha dor e hoje me fala mansamente. Deite-se com ela. Aceite-a. Reconheça. Eu obedeço. Chafurdo na minha própria lama por um momento, temendo ter que permanecer ali para sempre. E nessa hora eu ouço sua voz que diz: Agora pronto. Me dá. Me entrega. De hoje em diante eu carrego pra você.