Estava lendo textos antigos, indagando sobre momentos passados e me deparei com uma frase de meu texto intitulado “Que momento”. Ela diz:
Em que momento estou agora? Na limpeza do entulho. Sabendo de antemão que ainda virá o tempo de cavar buracos fundos em minha alma para que uma nova fundação seja edificada.
Eu escrevi isso em uma fase muito dolorida da minha vida. Mas eu não sabia o quão correta eu estava. Não imaginava que muito tempo depois leria essa frase e entenderia o hoje. Eu me avisei que viria o tempo de cavar buracos fundos em minha alma. Lá atrás isso foi claro para mim. Mas com o passar do tempo eu esqueci.
A limpeza do entulho durou demais, as próximas etapas ficaram escondidas nesse tempo. Dores disfarçadas, assuntos encobertos, feridas com casca.
Revisito hoje minhas profundezas. Cavo, cavo e não termino. Vez em quando paro em algum recorte no terreno. Olho de perto, identifico a erosão. Volto no tempo, revivo. É necessário chorar o que foi preso na garganta, é preciso ouvir de mim mesma o que machucava tanto e porquê. É fundamental perdoar e me perdoar.
Reboco a falha, preencho a fissura e volto a cavar.
É uma limpeza de terreno, um aplanar de solo, um tratar a terra. Sim uma preparação. Como previsto tempo atrás. Buracos bem feitos, refeitos, para uma futura nova fundação.
Rio sozinha pensando em como não percebi o processo. E me assusto quando entendo que não previ sua dimensão e dificuldade. Choro emocionada por não me sentir só na jornada. O engenheiro responsável me acompanha. Mostra o caminho do próximo rombo antigo, mal feito, pedindo ajuste, correção. E seguindo-o, para lá me dirijo. Respiro fundo e me preparo para mais um encontro com mais um pedaço mal-acabado da minha história que tenho a missão de arrumar.
Quanto vai durar essa etapa eu nem imagino. Mas agora que me entendo nela me alegro em saber que a próxima dará início à tão esperada nova construção. Bela, firme, sólida. Nada mais de lixo, nada mais de entulho, nada mais de fendas.